Sonhos de algumas noites de outono
Imagens Digitais sonhadas pelo modelo Stable Diffusion 1.5 com descrições produzidas pelo modelo CLIP de visão computacional.
“Sonhos de algumas noites de outono” é um desdobramento da obra “O que nos olha?“, assim como são os “Registros Elétricos“, mas enquanto estes falam do que acontecia durante o dia, as imagens selecionadas aqui contam o que acontecia durante a noite.
A questão aqui era sobre o que sonharia uma rede eletrônica produtora de imagens durante uma noite solitária em uma sala de exposição?
Há quem diga, influenciados pelos pensamentos de Sigmund Freud, que o sonho é a “linguagem da qual nos comunicamos com quem realmente manda em nós: o inconsciente” (PERES & RANIERE, 2024, p. 291). Um inconsciente privado, povoado por elementos recalcados, componentes de um pequeno teatro pessoal, internalizados em um sujeito que ao adormecer é invadido por isso que não conseguiu elaborar. Mas onde estaria o inconsciente de uma artista descentralizada? Nos circuitos do computador? Nos componentes da câmera? Nos códigos que produzem imagens? Nas identificações, feitas por humanos, entre palavras e elementos visuais das imagens com as quais ela foi treinada? Nos conceitos? Nos algoritmos que transformam imagens em representações matemáticas? Se em nenhum desses lugares podemos encontrar o inconsciente sonhador da máquina, como diríamos que ela sonha? Podemos dizer isso porque sonhar não é uma ação que parte desse sujeito que age, para admitir que uma artista descentralizada sonha é necessário “perceber que sonhos são imagens e que as imagens sempre precedem os sujeitos que sonham” (PERES & RANIERE, 2024, p. 292). Ela sonha pois se coloca à disposição destas imagens, que não são suas mas que passam por ela e seguem viagem.
Referência:
PERES, Renata; RANIERE, Édio. Sonhar. p. 291-292. In: Verbolário da Caminhografia Urbana. Org. ROCHA, Eduardo; SANTOS, Taís. Pelotas – RS: Editora Caseira, 2024. 396p.